quarta-feira, 2 de junho de 2010

Campanha de preservação de pássaros em Fortuna de Minas.

Por ELVIS GOMES
elvis.gommes@gmail.com

Daqui a dois ou três anos, o céu de Fortuna de Minas não será mais o mesmo. Foi com este pensamento que o funcionário público dos Correios Washington Moreira Filho, decidiu reunir, no segundo semestre do ano passado, alguns amigos interessados na preservação dos pássaros silvestres da cidade e criou a Associação dos Amigos da Fauna de Fortuna de Minas. O primeiro (e mais importante) trabalho da associação foi criar uma campanha visando à soltura dos pássaros, principalmente dos canários-chapinha, comuns na região. "Antigamente, o céu da cidade era cheio de pássaros de várias espécies. O que pretendemos com esta campanha é que os pássaros voltem a tornar nossa cidade mais bela novamente. Meu sonho é ver a praça central de Fortuna repleta de pássaros", conta Washington.

LIBERDADEDepois de realizar palestras nas escolas de Fortuna de Minas, com o apoio do IBAMA e da Polícia Florestal, e de espalhar cartazes e panfletos sobre a campanha por toda a cidade, a associação partiu, em outubro do ano passado, para a segunda etapa do seu projeto: iniciar a soltura dos pássaros. "Nós conseguimos conscientizar a população inteira da cidade", esclarece Washington.Desta forma, a própria população se encarregou de denunciar os moradores que mantinham pássaros presos em gaiolas. Em vez de multar os moradores, a Polícia orientou-os a soltar as aves. Para que os pássaros continuassem em Fortuna de Minas, diversos alimentadores foram colocados em pontos estratégicos da cidade.A campanha foi destaque na edição do último dia 17 de maio do Jornal Nacional, da Rede Globo. "Depois da divulgação da campanha, pessoas de outras cidades vieram soltar pássaros aqui em Fortuna", comenta Washington.

RESULTADOSCom a participação da comunidade, os primeiros resultados começam a aparecer depois de quase um ano de campanha. Segundo Washington, já pode ser observada uma quantidade maior de pássaros voando no céu de Fortuna de Minas. "Ainda são poucos, mas eles já começam a aparecer. Nós fazemos um acompanhamento técnico para saber onde estão os pássaros e como eles estão se reproduzindo. Nosso projeto só vai ter o resultado que esperamos daqui a dois ou três anos", garante ele. O meio ambiente, com certeza, agradece.

Jornal Minas em Foco, 28 de agosto de 2008.

MATERIA PUBLICADA NO JORNAL O TEMPO, 24/04/2010, PAG Nº 28 – COLUNA JÚLIO DE ASSIS

Os criadores foram abrindo as gaiolas e a cidade ganhou mais pássaros passeando pelos quintais, telhados e praças
Hélvio

Canário-chapinha, trinca-ferro, papa-capim

Vejo ao lado da casa em uma placa de madeira os dizeres pintados em branco com o reclame: Vendo gaiolas de passarinho e conserto violão. Embora sejam, para mim, atividades discrepantes criar passarinho em gaiola e tocar violão, admito que tem lá sua carga no imaginário a figura do violonista tocando e tendo como ouvinte o pássaro na gaiola, o qual o músico solitário cuida diariamente com alpiste e água.

Claro que o homem do reclame "vendo gaiola" deve criar pássaro e possivelmente até vender, mas não poderia colocar isso na placa, sob o risco de ser preso. E me vem à lembrança o caso do morador de Fortuna de Minas que fez uma campanha para que os criadores de pássaros em gaiolas soltassem os bichos. Ele mostrou com seu exemplo que bastava deixar alimentos em vasilhas que os pássaros retornariam, comeriam e cantariam satisfeitos, ou muito mais satisfeitos. Assim, os criadores foram abrindo as gaiolas e a cidade ganhou mais pássaros passeando pelos quintais, telhados e praças.

Fortuna de Minas é uma pequena cidade localizada na região central do Estado, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte, com aproximadamente 2.800 habitantes. Em certa época o município foi conhecido como possível foco de atração de Objetos Voadores Não-Identificados (OVNIs).

Fortuna é também a terra escolhida pelo marchand e ex-goleiro do Cruzeiro Vítor Braga para angariar amigos em torno de seu condomínio Vitorina Park e fabricar a elogiada cachaça Vitorina, além de cuidar de suas obras de arte.

O autor da façanha dos passarinhos é o funcionário dos Correios Washington Moreira Filho, 43 anos, natural de Fortuna de Minas e que na infância também teve suas criações em gaiolas. Mas há alguns anos ele começou a observar que os canários-chapinha e outras espécies estavam desaparecendo da cidade. "A gente anda muito aqui nas fazendas da região e eu via os canários circulando, mas a partir das proximidades da cidade eles não apareciam porque as pessoas estavam pegando pra prender nas gaiolas", me conta ele.

Foi então que Washington decidiu tentar mudar a situação. "Comecei conversando com os amigos sobre uma campanha contra os pássaros presos. Passamos a fazer reuniões, no começo com poucas pessoas, daí a pouco já participavam mais moradores e gente do Ibama, Polícia Ambiental (antiga Polícia Florestal), vereador, prefeito. O passo seguinte foi fazer um trabalho de conscientização e criamos panfletos, cartazes, distribuímos comunicados pela cidade e passei a fazer palestras nas escolas, mostrando para os alunos a necessidade de protegermos a nossa fauna", relembra ele.

Washington me diz que não foi assim tão fácil convencer os criadores de pássaros em gaiolas, mas entre os principais argumentos dele, lembrava aos fortunenses como a cidade tinha tantos pássaros antes nos quintais e praças e como haviam diminuído. Argumentava também que não havia necessidade de prender, que eles poderiam viver soltos na pequena cidade. Os mais resistentes usavam como estratégia para não aderir, a alegação de não acreditarem que todos soltariam. "E se seu soltar o meu e os outros não soltarem?", questionavam. Foi marcada então uma data, em 2008, com grande adesão, e a partir daí, além de não prenderem mais em gaiolas, os antigos criadores viraram fiscais da campanha. "Fica todo mundo de olho pra ver se tem algum preso", relata Washington.

O funcionário dos Correios conta que já se nota a presença maior dos pássaros pela cidade, principalmente dos canários-chapinha, trinca-ferros e papa-capins. O prefeito colocou uma placa na entrada de Fortuna denominando a "Cidade dos Pássaros". "Eles triplicaram, acho que o ápice mesmo será daqui a dois anos, pois é preciso um tempo maior. No início a gente ainda deixava comida para atrair os que ficavam em gaiolas e estavam desacostumados a buscar seu alimento, hoje nem é necessário, estão reintegrados à natureza e os filhotes são assim naturalmente", comemora Washington.

Se depender de Fortuna de Minas, o nosso amigo lá do início que vende gaiola e conserta violão só vai conseguir sobreviver de música.